Mãe Malvada

domingo, 28 de fevereiro de 2010
De MÃE, médico e louco todo mundo tem um pouco!
E eu era uma mãe muito malvada antes do Davi nascer...
Colocar uma criança para dormir na minha cama, entre mim e o meu marido?! JAMAIS!!
Ficar com criança o dia todo no colo?! Nem pensar! Deixa chorar, que uma hora pára!
Bom, cuspi pra cima, mas foi bem pra cima mesmo, num ângulo de 90º. Sabem o que aconteceu, né?!... Tudo o que sobe, desce!
O fato é que o Davi dorme entre mim e o meu marido desde o dia em que nasceu, e continuará a dormir. O plano é tirá-lo de lá aos poucos só no final do ano (será melhor deixá-lo conosco durante o inverno). Primeiro colocaremos o berço dele no nosso quarto, e só depois o berço irá para o quarto dele.
E quando o assunto é colo, piorou! Gente, acho que vou começar a usar fralda geriátrica, pois não consigo deixar o Davi nem para ir ao banheiro. Esses dias, fui tomar banho somente às 3:00 horas da madrugada, pois foi o momento que consegui deixá-lo dormindo, alimentado, limpo, quentinho, em paz e seguro na presença do pai.
Agora, quando alguém me fala para deixá-lo chorar um pouquinho, não critico e penso: "Já fui uma mãe assim um dia."
Graças a Deus, o Davi me tornou uma mãe melhor.

Chorou?! Dá-lhe a chupeta!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

...Como disse: "E quais são as melhores escolhas?", pois antes do bebê nascer já temos que escolher várias coisas: roupinhas, a cor do quarto, decoração, os móveis...
Enfim, são tantas coisas para se preocupar, escolher e comprar! E entre as coisas que comprei estava lá: A CHUPETA!
E enquanto o bebê não nasce, está tudo bem, mas quando começa a choradeira vem a dúvida: Dar ou não dar a chupeta?!
Fui pesquisar e descobri que a criança tem uma necessidade natural de sugar, que deveria ser satisfeita ao mamar. O que acontece é que quando o seio está muito cheio, sacia-se a fome, mas a vontade de sugar permanece.
A solução seria ordenhar um pouco o leite antes da mamada para que o peito, não muito cheio, possa saciar tanto a fome, quanto a necessidade de sucção.
O uso da chupeta pode causar desmame precoce, o que seria péssimo, visto os grandes benefícios da amamentação exclusiva até os seis meses de idade.
Além disso, a sucção da chupeta prejudica a mastigação, a deglutição e a fala, pois deixa os músculos das bochechas, lábios e língua flácidos e pode trazer alteração na arcada dentária.
Ainda (como se não fosse o suficiente), a respiração também se altera, fazendo com que a criança respire pela boca. A respiração oral causa alteração na postura e sono agitado, com ronco e baba.
A sucção digital (do dedo) NÃO é menos prejudicial para a criança, mas é uma ação natural, e está facilmente ao seu alcance, ela mesma é capaz de se conter, de se acalmar, sem ajuda externa. Desde que chupar o dedo não consuma uma parte excessiva da vida do bebê, nem se torne uma maneira de fugir de todo tipo de pressão, os pais não devem se preocupar. Mas se o dedo é um recurso próprio e natural da criança, por que não deixá-la tentar resolver suas próprias angústias?
Muitas vezes a criança está chorando por outro motivo qualquer, por querer carinho, ou estar com fome, frio ou sujo, não apenas por precisar sugar, mas o hábito é instalado indiscriminadamente. Chorou?! Dá-lhe a chupeta!
O principal argumento para a preferência à chupeta é a facilidade de tirar o hábito. Será?! Dificilmente uma criança ativa chupa o dedo, pois este comportamento atrapalha as suas brincadeiras, para tirar o hábito de sugar o dedo, basta distraí-la para outra atividade que tenha que fazer uso das mãos.
Sendo assim, decidi deixar a chupeta que comprei bem longe do Davi. Decidi dar o melhor ao meu filho e deixá-lo resolver suas próprias angústias, pois assim já vou ensinando a tornar-se uma pessoa autônoma e independente.
É isso aí! Mãe é uma fonte que jorra sentimentos e emoções, mas também precisa ponderar e ser bem racional.
Sei que escolhi a melhor opção!

Na foto:
Davi chupando o dedo assim que nasceu.


Referências de pesquisa:

Artigo: Chupeta: Uso Indiscriminado?

Saudade da Barriga?!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Eu curti muito a minha gravidez, e fiz questão de fotografar minha barriga em todas as etapas, semana após semana.
Esperei ansiosamente que o Davi começasse a se mexer, e depois que começou... não parou mais, é claro. No final da gestação diziam que iria diminuir por falta de espaço. Que nada! Sentia cada vez mais forte.
Sentir aquela pressão do bebê se mexendo dentro de você é maravilhoso, motivo de inveja dos papais. Coitados! No começo mal conseguem sentir nem ao colocar a mão sobre a barriga.
Às vezes eu me sentia uma mentirosa: "Amor, corre! Tá mexendo bem aqui! Aqui, ó...". Super empolgada e ele com aquela cara de... de.... sei lá de quê!
Não poucas vezes me recomendaram: "Aproveita porque passa rápido" ou "Depois vai sentir saudade da barriga, você vai ver!", e embora eu tenha curtido cada segundo, não tenho nenhuma saudade da minha barriga.
Hoje não existe a curiosidade, mas a certeza. Sei como é o Davi, posso não só sentir seus movimentos, como posso vê-lo se movimentando, vê-lo sorrir, sentir sua respiração ao afagá-lo em meu colo, posso abraçá-lo, beijá-lo, sentir seu cheirinho, acariciá-lo...
E o principal, hoje sei o que é ser mãe, sei o que é amar na sua forma mais pura e incondicional!
Sei que estou vivendo a melhor fase da minha vida, e não tenho como sentir saudade do passado, quando sei que o meu melhor momento é o presente!

Amamentãção e Obesidade

sábado, 20 de fevereiro de 2010
Sobrepeso e obesidade estão ligados à fase de amamentação

Risco de sobrepeso é maior quando bebês comem papinha antes dos seis meses

Esperar mais tempo para começar a dar alimentos sólidos a recém-nascidos pode evitar com que eles se tornem adultos gordinhos.

Segundo um estudo da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), quanto mais tarde as papinhas forem introduzidas na dieta dos bebês, menores são os riscos dessas crianças tornarem-se adultos com sobrepeso ou obesos. Ainda que os dados não sejam conclusivos, alguns estudos mostram que o leite materno protege a criança contra a obesidade.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês sejam alimentados no peito, principalmente nos primeiros seis meses de vida. A pesquisa analisou pouco mais de 5 mil homens e mulheres nascidos em Copenhague entre os anos de 1959 e 1961. Nessa época, os pais eram instruídos a começarem a dar comida entre quatro e seis meses de vida da criança, mas muitos deles começavam antes.

Metade dos analisados foi alimentada com leite materno por pelo menos dois meses e meio. Enquanto outra metade, já passou a receber comida sólida a partir dos três meses e meio, em média.

Desses, 17% recebeu alimentos sólidos antes dos dois meses e 46% não começou a comer até os quatro meses. No primeiro ano de vida, bebês que eram amamentados possuíam menor Índice de Massa Corporal (IMC).

Os pesquisadores encontraram correlação entre a idade de introdução de alimentos e o IMC dos participantes na idade adulta. A cada mês de atraso de início de cardápio com alimentos sólidos, o risco de sobrepeso diminui entre 5% e 10%.

De acordo com a pesquisa, a melhor maneira é esperar até os seis meses de vida para começar a dar sólidos para os bebês, porém isso não significa ser rígido em relação a isso.

Pois alguns bebês precisam de alimentos complementares antes dos 6 meses, mas o ideal é não dar este tipo de comida antes dos 4 meses.


Fonte: Yahoo
http://yahoo.minhavida.com.br/conteudo/10964-Sobrepeso-e-obesidade-estao-ligados-a-fase-de-amamentacao.htm

Vídeo: Parto do Davi

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Relato de Parto

A história do Davi começou assim:



O INÍCIO
Minha menstruação estava atrasada, mas não me importei muito. Senti uma cólica, aquela fraqueza nas pernas, mas nada de menstruação. Uma noite estava indo ao banheiro a cada 1 hora e achei estranho, mas não sabia que era sintoma de gravidez, apenas desconfiei que pudesse ser. Fiz uma pesquisa no Google e descobri que fazer muito xixi realmente era um sintoma de gravidez.

Fiquei aguardando mais alguns dias pra ver se a menstruação descia, até que chegou o grande dia da descoberta. Era domingo, e não era qualquer domingo, era o Dia das Mães, e eu não poderia deixar este dia passar sem nenhuma comemoração, caso estivesse grávida. Eu e o Fabricio fomos à farmácia, compramos o teste e assim que voltamos já fui ao banheiro.

_ E aí, Amor?! _Perguntou o Fabricio.
_ E aí que está escrito pra esperar 5 minutos, mas eu acabei de fazer xixi e já está dando POSITIVO!
Ficamos sem reação, não sabíamos o que fazer, não sabíamos o que falar, nos abraçamos, nossos lábios não diziam muita coisa, mas nossos olhares diziam tudo! Peguei a câmera fotográfica para registrarmos aquele momento tão marcante, pois sabíamos que a nossa vida jamais seria a mesma!
A GRAVIDEZ
O primeiro ultrassom foi o mais emocionante de todos. Ouvir o som daquele coraçãozinho pulsando naquele ritmo tão forte, parecendo uma locomotiva, foi quando percebi que meus olhos se encheram de lágrima.
A gravidez foi super tranqüila, queria eu que todas as grávidas ficassem como eu fiquei. Não tive enjôos, infecção urinária, a pressão estava sempre ótima, glicemia também.
Há muito tempo estava assistindo um documentário sobre animais, quando falaram que a fêmea (leoa) não estava reconhecendo o seu filhote pois tinha sido submetida a uma cesariana e seus instintos maternos estavam pouco desenvolvidos. Foi quando decidi que não ia querer ter uma cesárea quando engravidasse.
Assim que descobri que estava grávida comecei a ler de tudo sobre gravidez e parto. Descobri então que além do parto normal e da cesárea (já fora de cogitação), eu também tinha a opção do parto natural, que respeita a fisiologia do corpo da mulher e o tempo natural para o desenrolar do trabalho de parto.
Achei a idéia ótima, principalmente porque tinha medo até de fazer exame de sangue e adorei a idéia de não precisar ficar no soro e das demais interferências médicas. Além disso, meu bebê nasceria e viria para o meu colo no mesmo instante, mamaria, não seria aspirado e nem pingariam colírio de nitrato de prata em seus olhos.
Eu imaginava que todas as interferências que aconteciam no parto hospitalar eram realmente necessárias, mas nas comunidades e sites descobri que não eram e que além de desnecessárias, eram muitas vezes prejudiciais à gestante e ao bebê. Mesmo num possível parto normal, uma interferência desnecessária levava à outra, o que geralmente culminava num parto cesáriano.
Falei com o Fabricio, ele não tinha uma opinião formada, então mostrei um vídeo de uma reportagem sobre o parto domiciliar com entrevista de várias mães contando suas experiências e mostrando seus vídeos dos partos. Assim como eu, ele é super “natureba”, então foi fácil entrarmos em acordo e tomarmos essa decisão. Afinal, um parto em casa, não significa um parto sem assistência.
Precisava começar logo a fazer o pré-natal, pois com essa espera toda, descobri que estava grávida já com 6 semanas de gestação. Não procurei nenhum obstetra “especial” e nem tinha indicação de ninguém. Sabia que seria como encontrar uma agulha num palheiro se encontrasse um médico que apoiasse a minha decisão. Marquei uma consulta com uma médica que atendesse pelo meu convênio e que o endereço fosse próximo da minha casa.
Gostei muito da Dra. Rúbia, muito competente, atenciosa, simpática, deu o seu número de celular na primeira consulta e falou que qualquer coisa poderia entrar em contato, etc. Decidi que não contaria nada sobre a minha decisão de fazer um parto domiciliar para a Dra. Rúbia, pois caso ela fosse totalmente contra eu não conseguiria continuar fazendo meu pré-natal com ela.
Acabamos conversando sobre o assunto quando eu já estava com 36 semanas de gestação. A Dra. Rúbia ficou preocupada com que tipo de profissional que me assistiria, não me deu 100% de aprovação, mas me apoiou. Diante da minha ótima gestação, disse que não via motivos para não dar tudo certo, e ainda falou que muitos enfermeiros estão muito mais capacitados que os médicos para dar assistência num parto vaginal. Outra preocupação era o "plano B", e mesmo tendo convênio, a Dra Rúbia me aconselhou a ir para um hospital público, caso fosse preciso uma transferência.
Ao mesmo tempo em que procurei uma médica, também fui atrás de encontrar uma parteira. Entrei em contato com a Márcia Koiffman através do site da “Primaluz”, mas ela estaria viajando na data prevista para o meu parto e me indicou a parteira Ivanilde. Entrei em contato com ela, que começou a me acompanhar. Todos os exames que a Dra. Rúbia me pedia, eu passava os resultados também para a Ivanilde.
Normalmente, as mulheres que escolhem ter um parto domiciliar mantêm isso em segredo para evitar as opiniões contrárias e pressões familiares, pois isto pode abalar o estado psicológico da mulher, influenciando negativamente o trabalho de parto.
Bom, eu não consegui esconder nada de ninguém. Quando me perguntavam em qual hospital seria o parto, eu já falava que não seria em hospital, que seria na minha casa. Defendi o parto natural durante a gravidez inteira. Todos ficaram sabendo, a família inteira, os amigos, colegas de trabalho, e qualquer um que eu conversava, o cabeleireiro, etc.
Muitos me chamavam de corajosa, me entendiam e admiravam, mas muitos também me chamavam de louca, respeitavam a minha opinião, mas não aprovaram de jeito nenhum, não importando os meus argumentos. Não me considero nem muito corajosa, nem muito louca, me considero uma pessoa bem informada. Jamais OPTARIA por uma cesárea, ou por um parto normal cheio de intervenções, depois de ler tudo o que eu li.
A cesárea é uma intervenção médica maravilhosa, quando bem indicada com a intenção de salvar uma vida, jamais deveria ser uma opção. Quem escolhe uma cesária, inconscientemente, quer ter as tudo sob controle, mas não tem noção como as coisas podem sair do controle por causa desta opção. As intervenções, mesmo para um parto normal, precisam ser analisadas caso a caso, e não realizadas “automaticamente”, sem uma real indicação que justifique.
Costumo falar que o parto natural domiciliar é lindo, é emocionante, mas quem escolhe ter um parto nessas condições, não está preocupado com a beleza, e nem está sendo levado pela emoção, pelo contrário, toma esta decisão sendo muito racional, analisando o que é melhor, tanto para si, como para o bebê.


O PARTO
Dia 29 de dezembro eu e Fabricio ficamos conversando na cama antes de dormirmos e eu estava sentindo alguma coisa no ar. Algo estava diferente e falei:
__ Amor, o Davi vai nascer.
__ É?! Quando?! __ Ele perguntou.
__Não sei, mas está perto!
Naquela noite acordei sentindo uma contração, peguei meu celular para ver a hora, eram 3:00 horas e as contrações não pararam, não consegui mais dormir. A cada duas ou três contrações eu tinha que ir ao banheiro fazer xixi, e também tive diarréia. As 4:00 horas resolvi começar anotar a hora num papel cada vez que vinha uma contração e estavam regulares, praticamente a cada 10 minutos sentia uma contração.
Às 05h00min horas o Fabricio acordou, falei que estava tendo contração a cada 10 minutos e ele ficou acordado comigo até as 06h00. Às 07h30min quando ele se levantou, falei para ele que poderia ir trabalhar pelo menos até a hora do almoço, se diminuísse o tempo entre as contrações, ou se elas ficassem mais fortes, eu o chamaria antes. Pedi que antes de sair de casa ligasse para a Ivanilde e avisasse das contrações. Eu não ficaria sozinha em casa, pois mãe tinha vindo do Paraná e estava comigo já há alguns dias.
Eu também me levantei, e ao contrário do que imaginava, as contrações diminuíram e o tempo ficou tão espaçado que deixei de anotar, era uma a cada 30 ou 40 minutos. Fiquei pensando que tinha sido um “alarme falso” que tinha tirado a minha noite de sono. A Ivanilde ligou, mas eu falei que estava bem, que as contrações tinham diminuído e que se voltassem mais ritmadas eu ligava pra ela novamente. Mesmo assim ela achou melhor vir em casa para ver como eu estava.
Ela chegou por volta das 16:00 horas e me examinou, o Davi estava bem e eu estava com 2,5 cm de dilatação. A Ivanilde falou pra eu tentar descansar, já que não tinha dormido durante a noite, mas eu fiquei deitada e não consegui dormir. Ela já estava com todo o material necessário, e meu marido foi ajudá-la a tirar as coisas do carro.
No final da tarde as contrações voltaram a ficar mais ritmadas e mais doloridas também. Fui ao banheiro e estava perdendo o tampão mucoso. Comecei a me movimentar, andar, subir e descer escadas. A partir daí, perdi a noção do tempo, não olhei mais no relógio. Já era noite e falei para o Fabricio descansar um pouco. A Ivanilde fez uma massagem maravilhosa com óleo de arnica e eu continuei me movimentando e fazendo exercícios na bola. Várias vezes ela pegava o sonar para monitorar os batimentos cardíacos do Davi, media minha pressão e contava quantas contrações eu estava tendo a cada 10 minutos.
A Ivanilde perguntou se eu queria outro exame de toque, mas eu estava com medo de não ter progredido muita coisa. Aceitei fazer o exame e já estava com 6 cm. Durante o exame a bolsa rompeu, o líquido amniótico estava clarinho e as contrações começaram a ficar muito mais fortes. Faltava pouco, então a Ivanilde ligou para o seu marido, Enéas, também enfermeiro obstetra que nos auxiliaria durante o trabalho de parto, e também para a Brígida, fotógrafa e jornalista que registraria o parto e escreveria uma matéria sobre parto domiciliar.
Acordei o Fabricio para ele encher a banheira inflável e fui com a bola para baixo do chuveiro. Já estava muito cansada, sempre cochilava entre as contrações, fiquei com medo de dar um cochilo mais pesado e cair da bola, então saí do banheiro e fui com a bola para o quarto. A Brígida chegou junto com o Enéas no meio da madrugada.
Neste momento o Fabricio começou a encher a banheira de água. Nosso quarto é grande e seria o local do parto. Ele havia feito uma adaptação da mangueira na saída do chuveirinho no banheiro para poder encher a banheira. Aquela banheira é perfeita, tem largura e profundidade o suficiente, o fundo também é inflável, e tem uma alça de cada lado pra ajudar na movimentação. A água quentinha é relaxante, ameniza bastante a dor. Cada vez que vinha uma contração eu segurava nas alças da banheira e ficava de cócoras dentro da água.
O Fabricio ficou comigo o tempo todo, foi o meu “doulo”. Quando vinha uma contração doía bastante a minha costa na região da lombar, e ele me massageava e a dor ficava mais suportável. Estava calor, a água quente e a dor me deixavam com mais calor ainda, mas o Fabricio estava lá me abanando e me oferecendo uma água de coco bem geladinha. Enfim, ficou o tempo todo preocupado com o meu bem-estar.
Minha mãe, coitada, deve ter orado a noite toda, não dormiu nada, estava tão nervosa e tão preocupada que eu não quis que ela ficasse comigo, só apareceu na hora do expulsivo. Ela ficou na sala e depois na cozinha, fervendo a água para manter a temperatura da água da banheira.
Depois de um tempo comecei a sentir vontade de fazer força, as dores estavam bem mais fortes, mas a Ivanilde percebeu que eu estava com um pequeno sangramento e pediu para eu sair da banheira para que ela pudesse verificar se o sangue não estaria vindo da placenta. Saí da banheira e me deitei na cama, que estava previamente forrada com lençóis descartáveis. Estava tudo bem, o sangue não era da placenta, a dilatação estava total e o batimento cardíaco do Davi também estava normal. Na próxima contração a Ivanilde pediu para eu fazer força para a cabeça a descer, enquanto ela segurava o colo do útero.
A contração veio e eu fiz força. Ainda tive outra contração antes de me levantar, achei que não daria tempo de voltar para a banheira, pois a dor estando eu deitada e fora da banheira era muito pior. Depois que a contração passou me levantei rapidamente e entrei novamente na banheira antes que viesse a próxima contração.
Agora faltava pouco, então aquecemos mais a água para ficar na temperatura ideal. Tive mais duas contrações fortíssimas e sempre ficava de cócoras, já sentia uma pressão muito forte e queimava. Eu tentava ficar calma e respirar direitinho. Fiquei em pé para a Ivanilde ouvir novamente o coração do Davi com o sonar, e já foi mais difícil ficar em pé, pois sentia o Davi bem baixo, a bacia larga.
Tive outra contração enquanto estava em pé e pensei que ele fosse nascer naquele momento. Achei que a posição ajudou e resolvi permanecer mais na vertical possível, então só me ajoelhei. Veio outra contração e na próxima já senti a cabeça coroar, fiz força e só ouvia todo mundo falando: “Está nascendo!”. Então a Ivanilde segurou a cabecinha do Davi. Fiz mais força, mas o corpinho não saiu, foi quando a Ivanilde percebeu que o cordão estava no pescoço do Davi, ajudou ele a sair e desfez as duas circulares do cordão.
Assim que ele nasceu eu já fui sentando na banheira e o meu filho foi colocado em meu colo. A gestação é um período especial, mas eu não sabia o que significava ser mãe até aquele momento. Naquela hora, às 07h35min do dia 31 de dezembro de 2009 nasceram duas pessoas: o filho e a mãe.
Fiquei lá curtindo aquele momento, aquela felicidade intensa, admirando minha cria, sentindo seu cheirinho de recém-nascido que nascera tão lindo, limpinho.
Depois que o papai cortou o cordão umbilical eu saí da banheira, me deitei na cama, a placenta já havia se desprendido. O Davi veio mamar enquanto a Ivanilde fazia a sutura, pois tive uma pequena laceração na mucosa do períneo.
O Davi mamou bastante e depois de saciado, dormiu no meu colo. Estava cansado. Depois foi examinado, nasceu pesando 3,140kg e com 49 cm de cumprimento.
Já ouvi falar que a mulher quando passa por essa experiência, se sente mais poderosa, com a auto-estima elevada. Eu acho que uma boa auto-estima não é uma conseqüência, é uma condição. A mulher precisa confiar em seu corpo, e que o corpo que gerou é o corpo capaz de parir.
Terminamos aquele momento todos de mãos dadas, orando. Agradecemos a Deus pelo excelente trabalho de parto, por ter dado tudo certo, por nossas vidas, pela vida do Davi e por nossa família que acabara de se formar.
E assim termina esta história, no último dia do ano fui abençoada com o maior tesouro que alguém poderia receber. Fechei o ano com chave de ouro.


Te amo, filho!


Parto Domiciliar

http://www.dcomercio.com.br/Materia.aspx?id=37904&canal=2


O bebê chegou, em pleno aconchego do lar

Na tarde do dia 31 do mês passado, por volta das 16 horas, a enfermeira-obstetra Ivanilde Marques da Silva, de 46 anos, dirigiu-se à casa do casal Fabrício e Elinezia Sena, na Vila Prudente, zona leste. Ele é designer gráfico e ela, educadora.

Line, como a parturiente gosta de ser chamada, havia entrado em trabalho de parto. Davi só viria ao mundo na manhã seguinte. Caso já estivesse entendendo as coisas, Davi iria notar que havia nascido na própria casa.

Naquele dia, a enfermeira Ivanilde estava completando seu 36.º parto domiciliar. É pouquíssimo perto dos cerca de 10 mil que teve a oportunidade de fazer nos hospitais durante seus 25 anos de carreira. No entanto, trata-se de um número que tende a crescer, pois a prática está se disseminando entre os casais.

Tudo indica que se trata de uma reação das mães à utilização indiscriminada da cesárea no Brasil. Line é uma delas. Ao engravidar pela primeira vez, procurou se informar sobre o parto domiciliar por meio de reportagens, vídeos e nos sites de organizações não-governamentais (ONGs) que abordam o assunto.

Coragem – A julgar pela reação do marido, Line estava bem municiada. "Vi que o parto domiciliar com acompanhamento técnico é seguro e que, acima de tudo, deixamos a natureza agir", afirma. Mas Line também teve que enfrentar reações adversas. "Muita gente me chamou de louca; outros, de corajosa", diz ela. "Não se tratava de coragem, mas de falta de informações deles a respeito. Coragem é você ir para o hospital sabendo que vai ser cesárea".

É importante ressaltar que essas declarações do casal foram feitas durante a preparação para o parto acima referido. Fabrício, por exemplo, estava concentrado em massagear Line e monitorar a água quente armazenada na piscina de plástico armada no meio do quarto, sussurrando de tempo em tempo para a esposa respirar.

"Respire, Line, respire", recomendava. Tais cenas, que guardam forte apelo de afetividade e simplicidade, são coerentes com as correntes que defendem o parto como um evento biológico natural, sem qualquer caráter patológico, no qual estaria inserida equivocadamente a cesareana, muitas vezes desnecessária.

"Há cada vez mais mulheres com gestação de baixo risco, condição essencial, aliás, para o parto domiciliar, que estão preferindo dar à luz em casa", esclarece a enfermeira Ivanilde.

Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é um dos campeões em cesareanas no planeta. Aqui, conforme números da Pesquisa Nacional de Demografia da Criança e da Mulher, as cesáreas foram praticadas em 44% dos partos no ano de 2006. Nos hospitais da rede privada, a quantidade disparou: 81%.

Na Maternidade Santa Joana, na capital paulista, a taxa bateu nos inacreditáveis 92,25%. Isso significa que, dos 7.114 partos registrados ao longo do ano, apenas 550 foram normais. A recomendação da organização é de que não passem de 15% em um país.

Riscos – Na verdade, a cesareana implica maiores riscos de complicações do que o parto natural. É que, como toda cirurgia, está sujeita aos acidentes operatórios, questões de anestesia e infecções pós-parto e hospitalares.

Ela também interfere na formação dos primeiros vínculos emocionais entre mãe e bebê, dos quais participam os cuidados maternos iniciais, uma vez que a mulher estará sedada e depois em recuperação.

"A cesárea pode salvar a mãe e o recém-nascido. Mas, se mal indicada, traz complicações e aumenta o risco de morte materna e neonatal. É uma evidência científica", adverte o médico Adilson França, que coordena o Pacto Nacional pela Redução de Mortalidade Maternal e Neonatal no Brasil.

Os defensores do parto domiciliar apresentam argumentos consistentes. Um estudo da British Columbia University, do Canadá, examinou partos domiciliares no período entre 2000 2004, em comparação com partos hospitalares cujas parturientes tinham condições de parir em casa.
Acresce que o mesmo grupo de parteiras foi utilizado nos dois casos. No primeiro, o índice de mortalidade perinatal foi de 0,35 por mil. No segundo, 0,57. Por outro lado, as mães do parto domiciliar sofreram menos intervenções obstétricas.

Além disso, o número de manobras de reanimação ou terapias com oxigênio nas 24 horas iniciais foi menor nos seus bebês. Na Holanda, onde 40% dos nascimentos ocorrem em casa, o sistema de saúde somente cobre despesas com partos cirúrgicos quando há indicação médica. Entre nós, lembra a parteira graduada Marília Largura, cesareana, há algumas décadas, só era feita quando devidamente justificada por patologias.

Interesses – De acordo com a cientista social Sonia Hotimsky, professora da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o ensino médico contribui para as distorções. Para fazer sua tese "A Formação em Obstetrícia: Competência e Cuidados na Atenção ao Parto", Sonia pesquisou duas importantes faculdades de medicina da Capital, cujos nomes não revelou por razões éticas, e fez constatações preocupantes.

Cesáreas, por exemplo, são adaptadas aos interesses profissionais, de modo que não haja paciente em trabalho de parto no momento da troca das equipes nos plantões, fato que tumultuaria a realização do rodízio.

Os professores, por sua vez, repassam os procedimentos conforme sua experiência pessoal: apegados a métodos antigos, raramente citam artigos ou outros conhecimentos recentes relativos à assistência ao parto normal.

"Nos Estados Unidos, a Associação de Professores de Ginecologia e Obstetrícia trabalha para padronizar o currículo e implementar condutas éticas em relação ao paciente. "Aqui importa mais a experiência pessoal dos professores", lamenta Sonia.

Parteira – O menino Davi nasceu exatamente às 7h30 da manhã de 31 de janeiro. Veio com três quilos, direto das mãos da parteira para o colo da mãe. Em menos de 30 segundos ele abriu os olhos e começou a respirar. O pai cortou o cordão umbilical.

Davi mamou e dormiu. Somente foi medido, pesado e examinado após o primeiro sono. Três dias depois a enfermeira Ivanilde fez a primeira visita pós-parto e estava tudo bem.

"O parto domiciliar é emocionante. Mas, mesmo com essa emoção, nossa escolha foi guiada pela razão", disse Line, a nova mamãe.




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