Parto Domiciliar

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
http://www.dcomercio.com.br/Materia.aspx?id=37904&canal=2


O bebê chegou, em pleno aconchego do lar

Na tarde do dia 31 do mês passado, por volta das 16 horas, a enfermeira-obstetra Ivanilde Marques da Silva, de 46 anos, dirigiu-se à casa do casal Fabrício e Elinezia Sena, na Vila Prudente, zona leste. Ele é designer gráfico e ela, educadora.

Line, como a parturiente gosta de ser chamada, havia entrado em trabalho de parto. Davi só viria ao mundo na manhã seguinte. Caso já estivesse entendendo as coisas, Davi iria notar que havia nascido na própria casa.

Naquele dia, a enfermeira Ivanilde estava completando seu 36.º parto domiciliar. É pouquíssimo perto dos cerca de 10 mil que teve a oportunidade de fazer nos hospitais durante seus 25 anos de carreira. No entanto, trata-se de um número que tende a crescer, pois a prática está se disseminando entre os casais.

Tudo indica que se trata de uma reação das mães à utilização indiscriminada da cesárea no Brasil. Line é uma delas. Ao engravidar pela primeira vez, procurou se informar sobre o parto domiciliar por meio de reportagens, vídeos e nos sites de organizações não-governamentais (ONGs) que abordam o assunto.

Coragem – A julgar pela reação do marido, Line estava bem municiada. "Vi que o parto domiciliar com acompanhamento técnico é seguro e que, acima de tudo, deixamos a natureza agir", afirma. Mas Line também teve que enfrentar reações adversas. "Muita gente me chamou de louca; outros, de corajosa", diz ela. "Não se tratava de coragem, mas de falta de informações deles a respeito. Coragem é você ir para o hospital sabendo que vai ser cesárea".

É importante ressaltar que essas declarações do casal foram feitas durante a preparação para o parto acima referido. Fabrício, por exemplo, estava concentrado em massagear Line e monitorar a água quente armazenada na piscina de plástico armada no meio do quarto, sussurrando de tempo em tempo para a esposa respirar.

"Respire, Line, respire", recomendava. Tais cenas, que guardam forte apelo de afetividade e simplicidade, são coerentes com as correntes que defendem o parto como um evento biológico natural, sem qualquer caráter patológico, no qual estaria inserida equivocadamente a cesareana, muitas vezes desnecessária.

"Há cada vez mais mulheres com gestação de baixo risco, condição essencial, aliás, para o parto domiciliar, que estão preferindo dar à luz em casa", esclarece a enfermeira Ivanilde.

Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é um dos campeões em cesareanas no planeta. Aqui, conforme números da Pesquisa Nacional de Demografia da Criança e da Mulher, as cesáreas foram praticadas em 44% dos partos no ano de 2006. Nos hospitais da rede privada, a quantidade disparou: 81%.

Na Maternidade Santa Joana, na capital paulista, a taxa bateu nos inacreditáveis 92,25%. Isso significa que, dos 7.114 partos registrados ao longo do ano, apenas 550 foram normais. A recomendação da organização é de que não passem de 15% em um país.

Riscos – Na verdade, a cesareana implica maiores riscos de complicações do que o parto natural. É que, como toda cirurgia, está sujeita aos acidentes operatórios, questões de anestesia e infecções pós-parto e hospitalares.

Ela também interfere na formação dos primeiros vínculos emocionais entre mãe e bebê, dos quais participam os cuidados maternos iniciais, uma vez que a mulher estará sedada e depois em recuperação.

"A cesárea pode salvar a mãe e o recém-nascido. Mas, se mal indicada, traz complicações e aumenta o risco de morte materna e neonatal. É uma evidência científica", adverte o médico Adilson França, que coordena o Pacto Nacional pela Redução de Mortalidade Maternal e Neonatal no Brasil.

Os defensores do parto domiciliar apresentam argumentos consistentes. Um estudo da British Columbia University, do Canadá, examinou partos domiciliares no período entre 2000 2004, em comparação com partos hospitalares cujas parturientes tinham condições de parir em casa.
Acresce que o mesmo grupo de parteiras foi utilizado nos dois casos. No primeiro, o índice de mortalidade perinatal foi de 0,35 por mil. No segundo, 0,57. Por outro lado, as mães do parto domiciliar sofreram menos intervenções obstétricas.

Além disso, o número de manobras de reanimação ou terapias com oxigênio nas 24 horas iniciais foi menor nos seus bebês. Na Holanda, onde 40% dos nascimentos ocorrem em casa, o sistema de saúde somente cobre despesas com partos cirúrgicos quando há indicação médica. Entre nós, lembra a parteira graduada Marília Largura, cesareana, há algumas décadas, só era feita quando devidamente justificada por patologias.

Interesses – De acordo com a cientista social Sonia Hotimsky, professora da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o ensino médico contribui para as distorções. Para fazer sua tese "A Formação em Obstetrícia: Competência e Cuidados na Atenção ao Parto", Sonia pesquisou duas importantes faculdades de medicina da Capital, cujos nomes não revelou por razões éticas, e fez constatações preocupantes.

Cesáreas, por exemplo, são adaptadas aos interesses profissionais, de modo que não haja paciente em trabalho de parto no momento da troca das equipes nos plantões, fato que tumultuaria a realização do rodízio.

Os professores, por sua vez, repassam os procedimentos conforme sua experiência pessoal: apegados a métodos antigos, raramente citam artigos ou outros conhecimentos recentes relativos à assistência ao parto normal.

"Nos Estados Unidos, a Associação de Professores de Ginecologia e Obstetrícia trabalha para padronizar o currículo e implementar condutas éticas em relação ao paciente. "Aqui importa mais a experiência pessoal dos professores", lamenta Sonia.

Parteira – O menino Davi nasceu exatamente às 7h30 da manhã de 31 de janeiro. Veio com três quilos, direto das mãos da parteira para o colo da mãe. Em menos de 30 segundos ele abriu os olhos e começou a respirar. O pai cortou o cordão umbilical.

Davi mamou e dormiu. Somente foi medido, pesado e examinado após o primeiro sono. Três dias depois a enfermeira Ivanilde fez a primeira visita pós-parto e estava tudo bem.

"O parto domiciliar é emocionante. Mas, mesmo com essa emoção, nossa escolha foi guiada pela razão", disse Line, a nova mamãe.




2 comentários:

  1. Olá !
    estou planejano o parto do meu bebê em casa.
    Você poderia informar qual o valor paga para o acompanhamento do seu parto pela enfermeira obstetra?

    Por favor envie a resposta por e-mail, aguardo ansiosa.

    Fique com DEUS.

    Att. Daisy
    daisy.brazil@hotmail.com

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