Você fica grávida e a família toda comemora, agora ninguém come nada sem antes te oferecer, ninguém te deixa levantar peso, pessoas na rua sorriem ao perceber sua barriga, te oferecem o lugar para sentar, os carros param para que atravesse a rua, estranhos pedem para passar a mão na sua barriga, pessoas mais próximas até conversam com o bebê... E você se pergunta o porquê de não estar tão feliz.
Irritabilidade, tristeza constante, choro fácil, ansiedade, inquietude, medo, mau humor, fadiga, desânimo, diminuição da libido, alterações no sono ou apetite, sentimento de culpa ou inutilidade, dificuldade de concentração, desinteresse pelas atividades que antes gostava, comportamento introspectivo, desinteresse pela gravidez... Nem sempre são apenas "coisas de grávida", mas tudo isso também pode ser sintomas de depressão, inclusive recorrentes pensamentos de suicídio e morte.
O fato é que depressão gestacional ocorre com muita frequência, cerca de 10% a 20% das mulheres sofrem depressão durante a gravidez, e quando não tratada pode progredir para depressão pós parto. Cerca de 25% dos casos de depressão pós-parto tiveram início na gestação.
O "estopim" de uma depressão gestacional é variado: gravidez indesejada, o próprio histórico de depressão pessoal ou familiar, dificuldades no relacionamento amoroso/conjugal, falta de apoio familiar, gravidez de risco ou problemas com a gravidez anterior, problemas de fertilidade, idade materna precoce, histórico de aborto, ter sofrido ou sofrer violência doméstica, perda de algum familiar ou pessoa próxima, ou simplesmente as circunstâncias estressantes do dia-a-dia, como as responsabilidades com outros filhos, problemas no trabalho ou desemprego, falta de dinheiro, ou qualquer grande mudança. Além de motivos hormonais e psicológicos, a depressão gestacional também pode ser resultado de problemas físicos, como a diabetes ou doenças na tireoide.
"A depressão gestacional pode prejudicar o meu bebê?" Com certeza essa é uma preocupação de quem recebe esse diagnóstico, e a resposta é: sim, pode (o que, é claro, não ameniza o sentimento de culpa que ela já pode estar sentindo por outro motivo).
Os bebês nascidos de mães que tiveram diabete gestacional podem nascer com baixo peso, podem ter problemas respiratórios, de desenvolvimento neurológico e mental, geralmente são menos ativos, mais irritáveis, têm dificuldade de concentração e dificuldades no sono por volta dos 18 meses.
A depressão gestacional também está relacionada com uma série de situações como pré-eclâmpsia, aborto, morte neonatal, parto prematuro, maior uso de UTI neonatal, baixo índice de APGAR, e dificuldades na formação do vínculo entre mãe e filho. Por todos esses motivos fica evidente a importância de não ignorar os sintomas, buscar um diagnóstico precoce e aderir ao tratamento mais adequado.
Em primeiro lugar peça ajuda, não apenas a um médico, mas aos amigos e familiares em quem possa confiar. Converse com seu companheiro. Desabafe, procure apoio e tente se livrar da culpa. Não priorize tudo que você acha que precisa estar pronto antes da chegada do bebê. Acredite, nesse momento, cuidar de você é o mesmo que cuidar do seu filho, e é prioridade.
Divida tarefas, descanse, tente manter uma rotina de sono, reduza a carga de trabalho, saia com as amigas, pratique alguma atividade física recomendada para gestantes, pois o exercício físico eleva o nível de serotonina. Cuide da sua alimentação, evitando cafeína, açúcares e carboidratos processados, que estão ligados à má saúde física e mental.
Considere a possibilidade de terapia e tratamentos alternativos como o relaxamento, acupuntura ou produtos fitoterápicos. A ingestão de suplementos como ômega 3, vitamina B6, erva de São João e magnésio podem ajudar, mas, assim como todo medicamento, é preciso de uma recomendação médica, pois alguns suplementos contem substâncias não indicadas para gestantes ou não podem ser utilizadas juntamente com outros medicamentos.
Em casos de depressão gestacional mais graves o médico pode prescrever medicamentos, entretanto deverá considerar o que pode ser mais prejudicial à mulher e ao bebê, se as consequências da depressão não medicada, ou os potenciais danos da droga.
Caso perceba que se enquadra nos sintomas da depressão gestacional, não tente resolver isso sozinha, e não tenha vergonha de demonstrar fragilidade e buscar ajuda, pois reconhecer os próprios limites demonstra apenas que é uma pessoa responsável. Seu filho precisa que você cuide de sua saúde, que procure uma gestação mais tranquila para você e para ele, e assim evite que uma depressão gestacional progrida para uma depressão pós-parto. Cuide-se!
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